quarta-feira, 13 de julho de 2011

Cursos sobre Umbanda: válidos ou não?

Por Hédio Silva Júnior*

Organização das Nações Unidas ? ONU estabelece que todas as religiões têm o direito de criar escolas confessionais, institutos teológicos e de ensinar uma crença ou religião em locais apropriados.

Trata-se de direito garantido também pela Constituição brasileira e leis ordinárias.

Isto significa que uma organização religiosa, isto é, um templo com estatuto e ata registrada pode criar e manter creche, pré-escola, instituição de educação básica ou uma faculdade. Faculdade em sentido amplo, podendo abranger cursos de direito, medicina, matemática ou teologia.

A exigência estabelecida pelo Ministério da Educação - MEC, que deve ser obedecida por toda e qual­quer fa­culdade, tem a ver com a qualificação dos professores: exige-se certo número de dou­tores, mestres e es­pecialistas para a ins­talação de determinado curso de nível superior.

Doutores aqui tem sen­tido muito específico: são aquelas pessoas que concluíram a faculdade e continuaram estudando, fazendo cursos de pós-gra­duação, especialização, mestrado e obten­do um dos graus mais elevados que é justamente o doutorado.

Do ponto de vista da formação para o sacerdócio, a liberdade de crença quer dizer que todo indivíduo tem ampla liber­dade para escolher o tipo de curso que lhe seja mais conveniente. Tenha ele duração de quatro anos, quatro meses ou quatro horas; seja ministrado por uma faculdade ou por um Sacerdote/Sacer­dotisa reconhecido pela comunidade.

Não há dúvida de que nossos Sacerdotes e Sacerdotisas devem ter com­promisso permanente com sua qualificação profissional e preparo para o sacerdócio. Devemos sim incentivar nossa comunidade a investir em sua formação profissional, estimulando-a inclusive a ingressar num curso de nível superior.

Mas é bom lembrar que na Umbanda a maioria dos Dirigentes não sobrevive da atividade religiosa, sendo muitos os que têm diploma de nível superior em dife­rentes áreas. Conheço pessoalmente jornalistas, professores, funcionários pú­blicos, advogados, sociólogos, psicólogos, Delegados de Polícia que não estudaram teologia e são excelentes sacerdotes.

Portanto, quando falamos em cursos, formação, pre­paração, treinamento, preci­samos separar duas situações distintas: a formação profissional e a formação para o sa­cerdócio.

A formação profissional obviamente é livre e insisto em afirmar que devemos encorajar o Povo de Santo a ir para a faculdade, freqüentar um curso de nível superior e disputar o mer­cado de trabalho em melhores condições. A educação ainda é o principal instrumento de inclusão social que os pobres, a co­munidade negra e o Povo de Santo pode e deve utilizar inclusive para enfrentar a intolerância religiosa.

Já a formação para o sacerdócio deve ser de livre escolha de cada pessoa e a Umbanda possui Sacerdotes e Sacerdotisas que há décadas se dedicam a escrever, publicar artigos, livros, ministrar cursos e preparar novos sacerdotes.

Lembro-me bem de uma das ex­periências mais marcantes que vivi nos últimos anos: em 2008 fui à solenidade de diplomação do Curso de Babalaô (sacerdócio), Coordenado pelo Pai Ronaldo Linares, um dos mais importantes e respeitados ícones da Umbanda e das Religiões Afro-brasileiras como um todo.

Milhares de pessoas prestigiaram o evento, como acontece todo ano, e o brilho nos olhos dos formandos era o mesmo que vejo nos olhos dos meus alunos quando concluem a Faculdade de Direito.

Com ou sem o selo do MEC, o Curso de Babalaô é reconhecido, credenciado, respeitado e aclamado pelo Povo de Santo.

Aliás, em se tratando de ensino de religião, o ideal mesmo é que o Estado não se intrometa, cabendo à sociedade e aos fiéis selecionarem e escolherem o curso tendo em conta unicamente a seriedade, competência e reconhecimento dos responsáveis.

São muito bem-vindas as faculdades de teologia, desde que não desprezemos o acúmulo de conhecimento, a sabedoria, o desprendimento e a coragem daqueles desbravadores que, como o Pai Ronaldo Linares, abriram cursos quando muita gente sequer tinha coragem de assumir publicamente a religião.

Religião não pode ser resumida a diploma: religião é fé, dedicação, abnegação, conhecimento, caridade, humanismo, respeito ao próximo, respeito à diversidade e coragem para enfrentar a intolerância religiosa.

Religião não é técnica: é sentimento, vivência. Façamos de cada curso, cada cerimônia, cada templo uma escola que ensine a sociedade brasileira a conhecer a dignidade, a história de resistência e a grandiosidade da Umbanda e do Can­domblé.

Fonte: Jornal de Umbanda Sagrada - Maio de 2009 - Manter a Fonte.

Dr. Hédio Silva Jr., Advogado, Mestre em Direito Processual Penal e Doutor em Direito Constitucional pela PUC-SP, ex-Secretário de Justiça do Estado de São Paulo (governo Alckmin). Diretor Executivo do CEERT ? Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades.

terça-feira, 12 de julho de 2011

O maior desafio do médium: ele mesmo!


O maior desafio do médium é si mesmo. Ele deve superar a si para conseguir ter êxito em sua missão. Isso significa que deve buscar equilibrar-se continuamente. O que poderá ocorrer pelo exercício da observação, do conhecimento, da percepção, da compreensão e da aceitação do que se é e do que não se é.
Essa postura implica a prática da assunção de seu papel e responsabilidade por sua própria evolução – em primeiro lugar. Maturidade mediúnica implica comprometimento e busca por autonomia emocional, intelectual, moral e por consequência, espiritual.
Quando aprendo e manifesto verdadeiramente isso em minha Vida – primeiro -, então estarei no caminho certo para ser instrumento de auxílio do meu próximo.
Meu contrato de Evolução é entre eu e Deus. Não entre eu e o Terreiro. Isso significa que o que quer que eu faça, estarei, inevitavelmente fazendo para mim mesmo. Essa é a realiade para todos os campos da Vida e todos os planos da Existência.
A noção de responsabilidade ajuda a construir novas crenças sobre si e sobre sua atuação no mundo. Crenças mais próximas da realidade espiritual de cada um.
Essa aceitação é o primeiro exercício de humildade e sabedoria a que todo médium se expõe, mas que muitos não passam.
Por isso se você tem problemas busque resolvê-los na esfera adequada. Não é vergonhoso buscar auxílio junto a profissionais especializados e tentar encarar e resolver seus traumas, por exemplo. O que não é adequado é passar por experiências e sair delas com um olhar distorcido do que é a Vida e do que são as pessoas.
Por isso é importante lembrar que nós vivemos em sintonia com as pessoas e situações que angariamos – atraídas por meio de nossas escolhas – conscientes ou não. Ninguém é vítima ou juiz, temos que ser responsáveis.
Filho de Umbanda que entende isso estará em bom caminho para se tornar parceiro de Evolução de sua Egrégora de Luz.
Muito Axé a todos!
Nelly

Sou Negro

Sou negro!

Sou negro sim!

Trago comigo a voz da liberdade!

A liberdade que embora tardia ecoou nos quatro cantos do Brasil!

Trago comigo o cântico da esperança, o cântico da renovação!

Sou Firmino! Sou do Congo!

Sou neto de majestade; herdeiro de minha raça!

Sou o preto da senzala que com muito orgulho abrigou minhas raízes!

Sou Pai de muitos e o irmão de todos, mas na verdade também sou filho, filho de Olorum, filho de Zambi, embalado nos braços de Pai Oxalá!

Sou terreiro, sou templo, sou senzala!

Sou o anistiado pelo o amor!

Sou Firmino, o preto do Congo que quer ensinar aos filhos de fé a caminharem incessantemente na busca da paz!

Sou negro!

Sou negro sim!

Trago comigo a voz da liberdade!

A liberdade que embora tardia ecoou nos quatro cantos do Brasil!

Trago comigo o cântico da esperança, o cântico da renovação!

Sou Firmino! Sou do Congo!

Naruê meu Pai!
Patacori Ogum!
Ogunhê!

Sou Negro!

Pai Firmino do Congo

por Mãe Luzia Nascimento

Dirigente do Centro Espiritualista Luz de Aruanda

Terreiro Filiado ao Centro Espiritualista Caboclo Pery

O Templo que vos acolhe

Caros Amigos,
Bom dia!
O texto de hoje é muito bom e traz em si a essência do que vem sendo solicitado aos médiuns de minha corrente. Por isso, peço especial atenção à sua mensagem, é benéfica e fundamento para toda e qualquer corrente.
Muito Axé a todos!
Nelly


Amados filhos,


Vosso Templo não existe "ao acaso". Ele foi planejado e construído no plano astral bem antes de existir no plano físico. Portanto, a construção material não é apenas um amontoado de tijolos, telhas, cimento... Isso tudo aqui, está impregnado de matéria astral, de cor, de som e principalmente de energia resplandescente, da qual vossos olhos físicos não conseguem comensurar a dimensão e beleza.

Cada objeto aqui dentro é sagrado, pois seu uso é exclusivo para os rituais que também são sagrados. Mesmo os restos que destinais ao lixo, serviram para o "sagrado" e deles, antes que se descarregue na natureza, são retirados pelos responsáveis no mundo espiritual, toda matéria sutil que pode ser reaproveitada. Portanto meus filhos, mesmo ele merece, antes de rejeitado e despachado, ser reverenciado e agradecido por ter vos servido.

Que se dirá então do chão que vos suporta a matéria? Do teto que vos cobre, das paredes que vos defendem das intempéries? E muito mais, acaso tendes idéia meus filhos amados, da importância do "Congá"? Tendes acaso, noção do "sagrado" que ele representa dentro do Templo?

Cada partícula que compõe a matéria de cada objeto dele, está impregnada de energia consagrada pelas hostes que vos amparam, para que possam transmitir e ou transferir a todos que direcionam a ele apenas um olhar, algo muito além de um alento.

Por isso tudo meus filhos, vos solicito "respeito" por cada objeto do local. Lavai vossas mãos, serenai e limpai vossas mentes antes de tocar nos objetos sagrados, pois algo de maior além do que vossos olhos podem ver, ali está. Não deturpai essa energia em nome de vossa pressa maquinal ou porque vossa turva visão ainda não consegue conceber o duplo etéreo de tudo isso. Muito menos porque não possui a beleza ou sofisticação a que estais acostumados a exibir nos objetos que tendes em vossos lares.

Sendo o Templo que vos acolhe um local sagrado, sagrada deve ser vossa postura dentro dele. Adentrai a ele com a mente serena, com corpo limpo e com o coração em traje nupcial.

Lembrando que além do plano material, acima e além dele, em estado mais sutil, mais diáfano está a construção astral onde tudo acontece e a energia se transforma. Ali seres, cujo corpo é de energia, transitam e trabalham absorvendo o que vem do "alto" mas em grande grau de dependência da energia gerado em vosso ambiente físico. Cada palavra, cada pensamento, cada atitude tem uma repercussão em maior ou menor grau no plano astral, que vos responsabiliza da mesma forma, pelo que possa resultar.

A alegria de servir à caridade não condiz com a irresponsabilidade de transformar o que é sagrado em ambiente desorganizado. Que se mantenha o que é preparado muitas horas antes de vossa presença, pelo tempo que se fizer necessário mesmo depois que vos retirais do ambiente.

Que vossas mentes irrequietas e vossos corpos ansiosos possam se fazer dignos, não só de adentrar neste ambiente sagrado, mas sobretudo, de mantê-lo adequado e digno do trabalho tão grandioso que aqui se faz.

Paz em vossos corações. Serenidade em vossas mentes.


Tucuruí,

um caboclo de Oxoce, para vos servir.

Médium Mãe Leni W. Saviscki

Dirigente do Templo de Umbanda Vozes de Aruanda

(Terreiro Filiado ao Centro Espiritualista Caboclo Pery - CECP)

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Nossos Umbigos

O terreiro de Umbanda, como um hospital de almas ou pronto socorro emergencial, recebe nos dias de sessão ou "gira" uma quantidade razoável de encarnados, mas somente os espíritos desencarnados que lá trabalham, é que podem vislumbrar a imensidão de desencarnados que se movimentam no ambiente, em busca de ajuda. Ordenados e amparados por seus tutores, chegam estropiados e com aparência assustadora, uma vez que em sua maioria representam aqueles que cansaram ou esgotaram suas forças, na vida andarilha do pós-morte do corpo físico.

Voltam a pátria espiritual e dela não tem conhecimento e sem noção da continuidade da vida, quando não, desconhecem até mesmo sua condição de espírito desencarnado e por isso continuam a sentir os desejos, ambições, gostos e dores da vida física e nesse caminho, definham suas energias.

Quando conseguem alcançar algum vislumbre de consciência de sua realidade, permitem a ajuda dos benfeitores que os encaminham a algum local sagrado, onde medianeiros encarnados possam ajudá-los através do choque anímico, permitindo o total desligamento da matéria. Neste momento os chamados Centros Espíritas e de Umbanda, tornam-se "oásis" em seus desertos e como pontes entre os céu e a terra, permitem a passagem de volta à casa.

Naquela noite chuvosa e fria, a maioria dos médiuns daquele terreiro, ressentidos pela dificuldade de deixarem o conforto dos lares, faltaram ao trabalho espiritual e o dirigente preocupado com o atendimento dos doentes que se apinhavam no espaço que dia-a-dia se tornava pequeno, ajoelhou-se em frente ao congá, assumindo sua tristeza diante dos Guias espirituais. Deixou correr duas lágrimas para aliviar seu peito angustiado. Pensou em como fora seu dia e nas atribulações a que já deveria estar acostumado, mas que agora pesavam mais pela saúde que já lhe faltava. Nas dificuldades financeiras, no aluguel da casa que já vencera e nos tantos atrapalhos que ocorreram em seu ambiente de trabalho naquele dia. Sem contar na visita que viera de longe e que deixara em casa esperando pela sua volta do terreiro. Nada disso o impediu de fazer uma prece no final do dia, de tomar seu banho de ervas e seguir a pé até o terreiro, enfrentando a distância e o temporal que se fazia.

Sentia-se feliz em cumprir sua tarefa mediúnica, mas como havia assumido abrir um "hospital de almas", juntamente com outros irmãos que se responsabilizaram perante a espiritualidade em servir à caridade pelo menos nos dias de atendimento ao público, sabia que sozinho pouco podia fazer.

Pedindo perdão aos guias pela sua tristeza e talvez incompreensão em ver os descaso dos médiuns, que a menor dificuldade, escolhiam cuidar dos próprios umbigos à servir aos necessitados, solicitou que se redobrasse no plano espiritual a ajuda e que ninguém saísse dali sem receber amparo.

Olhando a imagem de Oxalá que mesmo ofuscada pelas lágrimas, irradiava sua luz azulada, sentiu que algo maior do que a lamparina aos pés da figura, agora brilhava. Era uma energia em forma de fios dourados que se distribuíam, a partir do coração do Cristo e que cobriam os poucos médiuns que oravam silenciosos, compartilhando daquele momento, entendendo a tristeza do dirigente.

Agindo como um bálsamo sobre todos, iniciaram a abertura dos trabalhos com a alegria costumeira. Quando o mentor espiritual se fez presente através de seu aparelho, transmitiu segurança a corrente, com palavras amorosas e firmes e nesse instante, falangeiros de todas as correntes da Umbanda ali "baixaram" e utilizando de todos os recursos existentes no mundo espiritual, usaram ao máximo a capacidade de cada médium disponível, ampliando-lhes a percepção e irradiação energética, o que valeu de um trabalho eficiente e rápido.

Harmoniosamente, os trabalhos encerraram-se no horário costumeiro e todos os necessitados foram atendidos.

Desdobrados em corpo astral, dois observadores descontentes com o final feliz, esbravejavam do lado de fora daquele terreiro. Sua programação e intenso trabalho para desviar os médiuns da casa naquela noite, no intuito de enfraquecer a corrente e consequentemente, infiltrarem suas "entidades" no meio dela, havia falhado. Teriam que redobrar esforços na próxima investida.

Quando as luzes se apagaram e a porta do terreiro fechou, esvaziando-se a casa material, no plano espiritual, organizava-se o ambiente energético para logo mais receber os mesmos médiuns, agora desdobrados pelo sono.

Passava da meia noite no horário terreno e os médiuns, agora em corpo de energia voltavam ao mesmo local do qual a pouco haviam saído. Os aguardavam, silenciosos ouvindo um mantra sagrado, seus benfeitores espirituais. Tudo estava muito limpo e perfumado por ervas e flores. Um a um, ao adentrar, era conduzido a uma treliça de folhas verdes e convidado a deitar-se, recebendo ali um banho de energias revigorantes. Quando todos já se encontravam prontos, seguiram em caravana para os hospitais do astral e lá, como verdadeiros enfermeiros, auxiliaram por horas a fio a tantos espíritos que horas antes haviam estado com eles no terreiro e recebido os primeiros socorros.

No final da noite, o canto de Oxum os chamava para lavarem a "alma" em sua cachoeira e assim o fizeram, para somente depois retornar aos seus corpos físicos que se permitia descansar no leito.

-Vó Benta, mas e aqueles médiuns que faltaram ao terreiro naquela noite, perderam de viver tudo isso?

-Nem todos zi fio! Nem todos! Dois ou três deles, faltaram por necessidades extremas e não por desleixo e assim sendo, se propuseram antes de dormir, auxiliar o mundo espiritual e por isso foram convidados a fazer parte da caravana.

- E aqueles que mesmo não tendo comparecido por preguiça, se ofereceram para auxiliar durante o sono, não foram aceitos?

-A preguiça, bem como qualquer outro vício, é um atributo do ego e não do espírito, mas que reflete neste. Perdem-se grandes e valiosas oportunidades a todo instante pela insensatez de ouvirmos o ego e suas exigências. O tempo, zi fio, é oportunidade sagrada e dele se faz o que bem quer cada um. O minuto passado, não retorna mais, pois o tempo renova-se constantemente. O amanhã nos dirá o que fizemos no ontem e esse tempo que virá é nosso desconhecido, por isso não sabemos se nele ainda estaremos por aqui servindo ou se em algum lugar, clamando por ajuda de outros que poderão alegar não ter tempo para nós, pois precisam cuidar de seus umbigos.

Assim é a vida, zi fio. Contínua troca!

Vovó Benta
(Mãe Leni W. Saviscki - retirado de www.umbandacomamor.com.br)

domingo, 10 de julho de 2011

Umbanda...quem és?

Sou a fuga para alguns, a coragem para outros.
Sou o tambor que ecoa nos terreiros, trazendo o som das selvas e das senzalas.
Sou o cântico que chama ao convívio seres de outros planos.
Sou a senzala do Preto Velho, a ocara do Bugre, a cerimônia do Pajé, a encruzilhada do Exu, o jardim da Ibejada, o nirvana do Hindú e o céu dos Orixás.
Sou o café amargo e o cachimbo do Preto Velho, o charuto do Caboclo e do Exu; o cigarro da Pomba-Gira e o doce do Ibeje.
Sou a gargalhada da Padilha, o requebro da cigana, a seriedade do Tranca-Rua.
Sou o sorriso e a meiguice de Maria Conga, Cambinda e Maria do Congo, a traquinada do Zequinha e a sa-bedoria do Sete Flechas.
Sou o fluído que se desprende da mão do medium le-vando a saúde e a paz.
Sou o isolamento dos orientais onde o mantra se mis-tura ao perfume suave do incenso.
Sou o Templo dos Sinceros e o teatro dos atores.
Sou livre. Não tenho papas. Sou determinada e forte.
Minhas forças?? Elas estão no Homem que sofre e que clama por piedade, por amor, por cari-dade.
Minhas forças estão nas enti-dades espirituais que me utili-zam para o seu crescimento.
Estão nos elementos: na água, na terra, no fogo e no ar; na pemba, na tuia, na mandala do ponto riscado.
Estão finalmente na tua crença, na tua Fé, que é o elemento mais importante na minha alquimia.
Minhas forças estão em ti, no teu interior, lá no fundo na última particular da tua mente, onde te ligas ao Criador.
Quem sou? Sou a humilde, mas cresço quando combatida.
Sou a prece, a magia, o segredo, o ensinamento milenar, sou cultura.
Sou o mistério, o segredo, sou o amor e a esperança. Sou a cura. Sou de ti.
Sou de Deus. Sou Umbanda.
Só isso… Sou Umbanda!”
(Texto de Elcyr Barbosa)