quinta-feira, 30 de junho de 2011

Por uma vivência Umbandista amadurecida

Engraçado como as coisas são, vemos pessoas com suas vidas altamente enroladas, cheias de doenças, com tristezas profundas, sem trabalho, sem equilíbrio e sem alegria indo os Terreiros de Umbanda. Lá são atendidas pelos Guias Espirituais e passam por passes, por consultas, por descarregos, por energizações e por transformações extremas. Se equilibram, se harmonizam, se enchem de Fé e Esperança, e aos poucos os caminhos vão se abrindo. Surgem as primeiras oportunidades e quase que automaticamente acontecem as promessas, com juras de amor eterno, com emocionantes discursos cheios de convicções e real aceitação de sua missão mediúnica.

Tudo quase perfeito se não fosse a imaturidade tão inerente no íntimo de algumas dessas pessoas, que acabam por colocar suas “Histórias de Fé”, aquelas escritas semanalmente e diariamente, diante e junto de um Caboclo, de um Exu e ou de um Preto Velho, no “Nada”, no “Pra Nada” ou “Por Nada”.

Esquecem o fato de que são as “Histórias de Fé” que constroem o importante Livro chamado VIDA.

Esquecem que essas “Histórias de Fé” caracterizam o lado Humano, o lado Gente, o lado Verdade do Ser.

Esquecem que uma “História de Fé”, assim como qualquer outra história, para se tornar real, verdadeira, coerente e com capacidade de compartilhar, precisa de princípio, meio e fim. Portanto não dá para começar escrevê-la tomados de empolgação e deixar a última frase sem nexo, sem um fim, sem uma conclusão, envolvida por tristeza e lamentações. Mesmo porque, esse Livro reflete a Vida – história sem nexo é reflexo de vida sem nexo.

Afirmo essa situação por ver, durante tantos anos, pessoas cheias de energia, alegria e determinação, cheias de compromissos espirituais, assistenciais e internos, SIMPLESMENTE deixarem de lado suas histórias de terreiro e suas histórias de fé para viverem o Nada. Médiuns que, ao terem suas vidas melhoradas, com mais oportunidades e opções, deixam de lado seus compromissos e voltam a viver uma vida infantil cheia de querer e ilusão.

E pensando numa vida infantil, aquela quando não se tem capacidade de pensar nas consequências dos atos, acredito ser importante conhecermos, mesmo que de forma bem simplificada, o que é uma PESSOA MADURA. Para um dos mais importantes psicólogos do século XX, Gordon Willard Allport – doutor em psicologia formado em Harvard em 1922, a pessoa madura se caracteriza em seis critérios:

1 – Aquela que sai do seu egocentrismo e entra para o eterocentrismo, portanto consegue fazer uma ampliação do sentido do EU. Allport afirma: “se uma pessoa não cria intensos interesses fora de si mesma… vive mais próxima do nível animal que do nível humano de existência”.

2 - Aquela que conquista relação afetuosa do eu com os outros. São as relações de amor, amizade, fraternidade capaz de criar “vínculos”, o que é fundamental para qualquer pessoa.

3 - Aquela que tem segurança emocional e auto-aceitação. Aliás, para Allport uma forma de medir a maturidade é pela capacidade de “tolerância da frustração”, ou seja, é capaz de passar por aborrecimentos, irritações, frustrações sem grandes descontroles ou, mesmo que aconteça, conseguem voltar ao equilíbrio rapidamente. Os imaturos “estão ainda preocupados com partes e pedaços da experiência emocional” afirma Allport.

4 - Aquelas que conseguem ter uma visão realista da realidade, um contato real. Allport resume esse aspecto da seguinte forma: “a pessoa madura estará em contato muito estreito com o que denominamos o “mundo real”. Verá objetos, pessoas e situações como o que são. E terá trabalho importante para fazer”.

5 - Aquela com capacidade de avaliar-se com objetividade e realismo, mantendo-se ligada no passado e pensando no futuro. É a capacidade de aceitação de si com seus limites sem perder sua auto-estima e a capacidade de rir, de manter o humor mesmo percebendo suas próprias bobagens.

6 - Aquela com uma filosofia unificadora da vida, portanto têm princípios com modo de ser e de pensar comum ao grupo.


Sabedores desses critérios podemos então avaliar nossos atos e pensar melhor antes de tomarmos atitudes significativas em nossas vidas, não é mesmo? Inclusive, podemos avaliar se somos maduros suficientes para lidar com o livre arbítrio fazendo escolhas.

Enfim, agora podemos olhar para nós mesmos com mais clareza e refletir, estamos deixando de lado nosso eu para pensar no outro? Estamos conseguindo criar vínculos com relações de amor e fraternidade? Somos seguros conosco mesmo a ponto de aceitar nossos erros? Conseguimos ter uma visão real dos fatos sem criar imagens torcidas e percepções induzidas entendendo que ‘fato é Fato e diante dos fatos só nos resta aproveitar com bom humor’? Pensamos no futuro levando em conta as promessas do passado e as necessidades do presente? Estamos pensando em um Todo e no bem de todos???

Se as respostas foram positivas então estamos escrevendo um lindo Livro da Vida onde as “Histórias de Fé” estão dizendo o quanto somos maduros e verdadeiros diante daquilo que é mais importante na vida de qualquer médium e qualquer Ser, o ESPÍRITO. Reafirmando a grandiosa frase do teólogo Pierre Teilhard de Chardin: “Não somos seres humanos que estão passando por uma experiência espiritual, mas nós somos seres espirituais que passamos por uma experiência humana”

Se as respostas foram positivas então a Umbanda não terá mais histórias “engraçadas”, mas sim HISTÓRIAS DE AMOR, GRATIDÃO, FIDELIDADE E VERDADE.

Fonte de pesquisa e estudo:
Personalidade (1966), Desenvolvimento da Personalidade (1966) de Gordon Willard Allport
(texto retirado de www.minhaumbanda.com.br, escrito por Mãe Mônica Caraccio)

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