segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Juventude e Umbanda

Bom dia pra todo mundo.

Já fazia um tempão que eu não escrevia e, não tem jeito, quem gosta de ensinar sempre algo que quer contar, né? rsrsrsrsrs

Sou mãe de santo, sou uma jovem mãe de santo e tem várias coisas que me saltam aos olhos, talvez pela idade, talvez pela formação anterior, não sei...mas tanto na corrente que oriento, quanto em outros espaços tem certas coisas que me chamam muito atenção. Uma delas vou trazer a tona no texto de hoje: o jovem na Umbanda.

Cada vez mais quando vou aos terreiros e tendas em minha cidade encontro uma multidão de jovens frequentando as assistências e as correntes. Isso é bom, pois percebemos que a espiritualidade está sendo despertada e orientada desde cedo.

Contudo, não podemos esquecer quem é o homem/mulher que está na juventude de seu ciclo vital. Ele é aquele espírito impetuoso, um pouco rebelde, um pouco dono do mundo, que experimenta a euforia e a melancolia de uma forma intensa, passando de um ao outro em poucos minutos. O jovem é aquele que necessita experimentar o mundo, que está ressignificando seu corpo físico, seus sentidos, definindo conceitos como gênero, sexualidade, desejo, amor, vícios, responsabilidade, desafios, educação, beleza, ética e tantos outros aspectos da vida física. Na juventude ele trará para o mundo boa parte de suas bases familiares, suas regras para a condução de sua vida adulta.

O jovem concentra em si um grande potencial para o bom desenvolvimento espiritual pois quer conhecer, quer movimentar-se, quer ser desafiado e precisa desafiar/quebrar paradigmas, quer entender o que o outro ainda não entende, quer sempre sair na frente de algum modo e, atualmente, demonstra possuir um cabedal de informações enorme.

Isso tudo ainda não explica completamente como se dá a juventude, que hoje vai muito além da adolescência, estima-se que o período da juventude esteja modernamente compreendido entre os 12 anos até próximo dos 28, 30 anos de vida. Claro que boa parte desse perfil de juventude é marcada pelo desenvolvimento neurológico e pelas experiências de vida. Claro que existem muitos jovens maduros e sábios para a idade....Porém, o que me chama a atenção é a energia desses jovens dentro de uma gira e os riscos a que estão expostos.

Da mesma forma que temos no jovem um potencial muito grande para re-escrever o futuro, ainda temos elementos que precisam ser vistos de perto e com orientação cuidadosa.

A energia sexual, por exemplo, está em um processo efervescente nessa faixa etária, o que pode tanto ajudar no processo de desenvolvimento mediúnico quanto prejudicá-lo quando mal orientada. Desequilíbrios da sexualidade podem desgastar o jovem que é médium e, as elaborações mentais de cunho pornográfico podem gerar formas pensamentos e levar a conexões com planos muito negativos – que irão sobrecarregar o campo espiritual do jovem que é trabalhador de Umbanda, além claro, de levar partes de sua consciência para planos baixos, densos e viciosos. Que fique claro que a sexualidade em si não tem nada de negativa, os riscos estão no excesso, na falta de orientação, na criação de tabus, na promiscuidade, nos traumas mal trabalhados etc.

Ainda falando na sexualidade, temos a vaidade, a necessidade de exposição e a lascividade. É comum nessa fase da vida que a pessoa queira mostrar-se, pois faz parte da descoberta de si a aceitação pelo outro. No caso da gira, o risco de desequilíbrio vem no flerte ou na paquera dentro de uma corrente, nos comportamentos não condizentes com a serenidade que o espaço requer. Costumo dizer que o espaço do terreiro é sagrado e deve manter-se assim e de modo algum deve tornar-se clube social, baile funk ou corredor de faculdade. Não é saudável o médium ficar namorando ou “pegando” seus irmãos de corrente. Isso é um furo nos laços que fazem de uma corrente um grande elo energético. O que dá lugar a manifestação de obsessores, espíritos cruéis, viciosos, zombeteiros...

É comum na vida fora da gira as pessoas “ficarem” com quem quiserem, sem qualquer tipo de compromisso. Mas dentro de um círculo de desenvolvimento mediúnico isso não deve ser incentivado sem a noção de responsabilidade. A vaidade ainda não burilada também se manifesta de outras formas, entre elas, nas roupas e adereços exagerados, no comportamento chamativo, nas conversas inadequadas, no animismo vicioso, nas comparações entre os processos mediúnicos, no sentimento de inveja quando o outro assume determinadas funções dentro do centro, no ciúme que se manifesta nos relacionamentos, nos ódios sem motivo uns pelos outros e assim por diante.
O vício é outro aspecto que deve ser cuidado. Cada vez mais nossos jovens estão experimentando vários tipos de drogas de maneira extremamente precoce. O uso de bebidas, fumo, medicações ou entorpecentes traz danos – muitas vezes irreparáveis – nos corpos astrais do médium. No caso do médium trabalhador que faz uso de drogas pode-se dizer que ele está alimentando relações obsessivas profundas com os planos trevosos. Daí, como dizer que um médium que usa drogas conseguirá manifestar espíritos de luz? Lembrando que nossas relações espirituais se dão basicamente por afinidade....???
Na cultura da terra é comum o jovem sair com seus amigos e beber até cair, fumar excessivamente, ter relações amorosas e sexuais multiplas - com conhecidos e desconhecidos, experimentar ácidos, alucinógenos, medicações que alteram o estado de consciência....e daí, um dia por semana ele vai ao terreiro, vestir o branco e incorporar... também tem as situações em que ele vai a gira por causa do bonitinho ou da bonitinha que lhe desperta a sexualidade....como ter um trabalho sereno e equilibrado diante dessas condições?

Existem outros riscos relacionados à juventude, o que em outro momento trarei a tona.

Diante de tudo isso posso, com toda segurança, afirmar a mediunidade não fará ninguém santo, mas deve ajudar o espírito encarnado a experimentar um novo modo de viver a vida e os desafios da vida. O desenvolvimento da mediunidade deve levar à espiritualização, ao desapego, à alegria de honrar o seu corpo físico e todo o potencial que todos trazem dentro de si...Em relação aos nossos jovens a Umbanda deve levar a reflexão e a ressignificação dos valores e princípios que dão base para sua vida física. Como um médium da corrente falou dia desses: “umbanda também é arrumar a cama”.
É preciso mostrar que é possível ser alegre, feliz e satisfeito por outros meios que não apenas pelas fugas tão incentivadas pela mídia e pela cultura.

Acredito em uma Umbanda bem simples, com valores, com uma linguagem que emocione e mexa com nossos conceitos mais profundos, que lembre a necessidade da celebração da vida; nesse sentido, com os jovens que frequentam minha corrente aprendo muitas coisas e vejo o quanto eles tem a oferecer de amor e conhecimento para o próximo e para a própria Umbanda, é por isso que fortaleço ainda mais a noção de que todos os médiuns jovens precisam de orientação, de reflexão e de apoio – todos ganharão algo com isso e, pelo menos: a Umbanda ganhará médiuns mais conscientes de suas responsabilidades e o mundo ganhará pessoas melhores.

Um grande abraço,
Nelly

Nenhum comentário: